No deck de Puerto Madero, a mulher de vestido geométrico chama a atenção. O verde esfuziante a convidar os olhos, como se liberasse fagulhas de sua alegria. Quem a tivesse visto pouco tempo atrás talvez não entendesse o andar leve e brejeiro.
Havia saído de casa com vários afazeres, a lista no celular parecendo o extrato de compras mensais do supermercado. E na manhã em que nada funcionava, um caos, já havia procurado em três lojas e nada de achar o botão do blaser que se perdeu.
Na próxima loja de aviamentos, a vitrine ao lado chamou a sua atenção. Era uma das suas preferidas, e em promoção! Ah, pensou consigo, uma paradinha não vai me tirar muito do roteiro.
E entre provas e espelhos, o vestido caiu como uma garoa refrescante no seu dia. Relembrou sua pele, seu brilho, sua singularidade.
Colocou as roupas antigas na sacola. Na beira do cais, o sol a lhe beijar a face sussurrou: poderia deixar tudo o mais para depois.
O desabrochar do seu maravilhamento consigo mesma, porém, era para ser sentido naquele instante.
Magda Medeiros