São 22 horas e nem mexi na mala, o voo é amanhã cedinho. Não consegui antes, foi uma doideira com reunião em cima de reunião, ainda teve saída no final do dia para comemorar o aniversário de um colega.
A viagem é de trabalho, assim pego as fotos com os modelitos separados e combinados, vai mais rápido assim. Saia com blusa, casaco pra garantir, o ar condicionado pode estar forte. Camisa com calça de alfaiataria e colar. Sapatos que podem ser usados em looks variados. Bolsa básica sempre. Branco, nude, um toque de cor.
Que beleza, quase pronta!
O vestido longo e estampado me chama, ah, que delícia senti-lo a abraçar minhas pernas, o movimento no meu corpo.
Ele me lembra coisas boas, margaritas e homens interessantes. Não, Carlota, nada disso, é viagem de trabalho, tra-ba-lho, entendeu? Três dias longos e duas noites com jantares formais, você não vai precisar, deixa disso, nada de “e se surgir uma oportunidade?”
Empurro a maleta pro canto e vou dormir.
…
Acordo com o vestido colorido em cima do edredon, não entendo, achei que o tinha guardado. Será que estava meio desligada e o deixei largado ali por acaso? Ah, esquece, me digo, vou tomar café e seguir o planejado. Chamo o uber, me ajeito no carro, a música me chama: “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”.
— Só um instantinho, moço, esqueci algo. Volto correndo, as estampas do meu querido se juntam às peças discretas. Dois acasos em seguida eu não iria deixar passar.
Magda Medeiros