Se eu fosse eu, ficaria impressionada com o tanto que faço e com o tanto que não me permito. Como dou conta de tanta vontade e de tanta ausência?
Sim, se eu fosse eu, falaria a verdade: em grande parte do tempo eu somente sigo, sem me aperceber do que não estou percebendo. Leio coisas diferentes e deixo no canto, escrevo para mim mesma e não volto para sentir se algo mudou, misturo caminhada com a pressa do supermercado, conversas com as amigas e horário de lives.
E assim vou, s-a-l-t-i-t-a-n-t-e.
Se eu fosse eu, avisaria o meu relógio que a segunda é um bom dia não só para a dieta, mas também para iniciar uma lente de aproximação
. Traria pra perto pequenos deslumbramentos, olharia o céu pra descobrir o que tem naquela nuvem, assim, do nada, antes de apertar o passo, aliás, caminharia mais vezes sem rumo, numa nova rua, numa nova calçada, numa nova vista. Voltaria nas minhas escritas só pelo prazer de me ver, bem de pertinho, teria mais um exemplar do meu livro favorito para presentear sem ser data festiva.
Se eu fosse eu, começaria agora mesmo, sem esperar a segunda-feira.
Se eu fosse eu, faria esta pergunta todos os dias, só para me sentir na própria pele, e, quem sabe, me perceber mais ampla e vulnerável.
Magda Medeiros