A filha do oleiro

Trecho do programa “Conversa com Magnólia”, entrevista com a ceramista Tami Karuaki:

— Bom dia, Tami, um prazer tê-la aqui, sou uma grande fã sua!
— Imagina, Magnólia, o prazer é meu, muito bom estar neste sofá e poder falar um pouquinho de mim e da minha arte. 
— Então, começo com uma pergunta que muitos já devem ter feito: O que a levou a escolher esta forma para se expressar? Tem relação com o seu pai, Otto Karuaki? 
— Meu pai era de uma geração de oleiros, desde pequena eu ia para o estúdio com ele, gostava de brincar com a argila. Quando ele começou a ser reconhecido por suas peças simples e onduladas eu não estava com ele, meus pais haviam se separado de um jeito tumultuado, me mudei para São Paulo com a minha mãe. Nunca me imaginei uma ceramista, sabe. Quando eu o perdi naquele acidente de carro, no funeral encontrei o meu avô e ele me perguntou porque não seguia o ramo da família. Eu estava meio sem rumo, daí marquei umas aulas com a Anita. 
— Ah, procurou a melhor né? 
— Sim, fiquei com ela alguns anos, parecia que não saía do lugar, não aguentava mais fazer as formas de sempre, até que um dia Anita me perguntou: o que combina mais com você, objetos delicados ou extravagantes? Singelos, eu respondi. A mestra me disse para vermos o que surgiria.  

Eu me desmanchei como um rio ao abraçar a massa e me misturar, como se lágrimas e terra não tivessem limites. Peças estranhas e vibrantes iam se seguindo na bancada. Fiquei sem entender, então escutei “mãos à obra, você está pronta!”.  

No final do dia, o rosto enlameado e as mãos cansadas me sussurraram: Bem-vinda de volta, mulher fascinante!  

Magda Medeiros

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