Abro os braços, me espreguiço com vontade. O sol brilha, começo a ver os neoprenes dos surfistas, o cheiro de parafina das pranchas me envolve. As crianças de maios coloridos com seus baldinhos, em bando, saem correndo, idas e voltas com a água passeando pelas beiradas. Os pais carregados de guarda-sol, lanches apetitosos, bolsa com protetor solar e outra muda de roupa.
Lá pelo meio-dia um castelo se ergue, a garotada se juntou para a bela arquitetura. Bem na hora o carrinho de choripan desafina na areia e oferece um mundo de delícias. A pequena enrolada na toalha puxa a mãe, o aroma do pão e da linguiça deixa um rastro no ar e a menina o segue, a maior sem graça pede dois.
Daqui a pouco é a hora do picolé, penso comigo. Diversos sabores, tento adivinhar quais os preferidos de cada um, a criançada se junta ao redor do moço e quase entra no baú retornando com o troféu da cor escolhida.
Percebo a água no castelo, bem devagar ele se desfaz, escorre pela praia. A pequenina de chapéu de bolinhas chora e logo vai embora.
Um dia na praia se findou.
Amanhã talvez eu acorde com a chuva fina e teimosa, as nuvens escuras no céu, poucas pessoas ao redor. Ou uma trovoada com raios e clarões para lavar tudo e levar embora o que precisa ir.
Pode ser que as ondas venham e me levem para a imensidão do mar, grão de areia eu sou. Um mundo diferente estará lá, com peixes multicores, arraias, corais. Ou o vento me carregue para as plantações e eu veja o germinar de algo novo.
A vida é movimento.
Magda Medeiros