A Vidraça

Da janela do apartamento observo o amanhecer.  

O vento sul bate forte, preciso prender o cabelo e segurar a minha vontade de voltar para a cama, ficar debaixo das cobertas. Vejo o homem de capa amarela na bicicleta, não tinha percebido a chuva fininha.  Olho as fachadas, pessoas à mesa conversando, na outra uma criança de colo chora, uma senhora coloca o casaco. Lá o casal se beija, um sai e volta correndo para pegar algo esquecido sobre a mesa. Um cartaz de vende-se, o que aconteceu? Um trabalho novo, uma viagem, ou será mudança de cidade?  

Uma trepadeira sobe pela parede externa da sacada. Havia tentado plantá-la várias vezes e ela não vingava. Desisti de vigiá-la ao ver suas folhas secas e ali estava: plena e verdejante. ​​— Saia de casa, com chuva ou sol! — ela parece me dizer —Busque o guarda-chuva, enfrente raios e trovoadas.   

Deixo a vidraça e vou fazer o café. Não é igual ao de ontem, as histórias não conhecidas me movem, o dia a dia me interessa. Novas sementes precisam ser jogadas. Pego as chaves e a sombrinha de poás. Fúcsia e vibrante, as suas cores e o contorno em minha mão me fazem ensaiar uns passos.  

Sigo dançando.

Magda Medeiros

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