A elegância do ouriço – Muriel Barbery

Onde se encontra a beleza?

O livro “A elegância do ouriço”, de Muriel Barbery, representa, para mim, a literatura significativa, aquela que aborda romances clássicos e obras de arte refinadas, questões existenciais e filosóficas, em meio a uma narrativa que envolve e conduz. A construção do romance, com duas narradoras se alternando e se desvendando aos poucos para o leitor, me encantou. Nada é o que parece, à primeira vista. A zeladora que foge do que se espera de uma pessoa neste cargo e a adolescente que aparentemente não tem esperança traduzem uma grandeza de sentimentos que fazem eco à nossa sociedade às vezes tão árida. Elas sentem e percebem sob a superfície. São lúcidas.

O livro fala sobre encontro, tanto consigo mesmo como com o outro. Explora a necessidade de solidão para um aprofundamento em si, o seu autoconhecimento, porém revela porque o outro e a busca de pessoas que nos compreendam é um ponto supremo na vida. As personagens nos incitam a enxergar além das aparências, a procurar e, quem sabe, ter a graça de encontrar pessoas que procurem nos olhos e nos gestos muito mais do que transparecemos.

 Um dos trechos que mais gostei é este: “É a primeira vez que encontro alguém que procura as pessoas e vê além. Nunca vemos além de nossas certezas e, mais grave ainda, renunciamos ao encontro, apenas encontramos a nós mesmos sem nos reconhecer nesses espelhos permanentes. Se nos déssemos conta, se tomássemos consciência do fato de que sempre olhamos apenas para nós mesmos no outro, que estamos sozinhos no deserto, enlouqueceríamos.”

A elegância do ouriço é um texto com várias metáforas e entrelinhas para nos insinuarmos, e vou utilizar a expressão “uma preciosa pedrinha de infinito”, a metáfora da autora para a beleza, para definir este livro que nos oferece uma pista para seguirmos o caminho da profundeza e verdade.

E vou citar esta parte também, porque fiz várias marcações e foi bem difícil escolher as que mais gostei: “Quando se torna ritual, o chá constitui o cerne da aptidão para ver a grandeza das pequenas coisas. Onde se encontra a beleza? Nas grandes coisas que, como as outras, estão condenadas a morrer, ou nas pequenas que, sem nada pretender, sabem incrustar no instante uma preciosa pedrinha de infinito?”

Beijos,

Magda Medeiros

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