O resgate da intuição e do verdadeiro em nós
“O que está por trás do visível? O que faz com que aquela sombra cresça na parede? A natureza jovem e ingênua começa a compreender que, se existe algo de secreto, se existe algo de sombrio, se existe algo de proibido, é preciso que ele seja examinado.” Este trecho é do livro Mulheres que correm com os lobos, da Clarissa Pinkola Estés, e dele me utilizo para explorar as entrelinhas da Colleen Hoover. Porque apesar do livro ter sua estrutura pendendo para as ações e diálogos, há muito a se refletir com a sua leitura e que revela correspondência com as questões do amadurecimento psíquico. Se parece bom demais para ser verdade, talvez não seja. Mas, como é relatado, não se abrem todas as portas de uma vez e o encanto de determinadas situações traz um verniz que leva à demora para perceber o tamanho real do problema.
Uma pergunta que emerge é sobre o tempo para conhecermos realmente uma pessoa. Em algumas situações da narrativa nos é mostrado que o tempo não é tão crucial assim, como na rapidez com que Lily confia no rapaz desabrigado, um mendigo, ou na amizade fluida que borbulha ao conhecer os amigos de Atlas. E também como em questão de segundos o que achamos que sabíamos pode ser derrubado: “Quinze segundos. Esse é o tempo necessário para mudar completamente tudo o que você conhece sobre uma pessoa. Quinze segundos.”
Aliás, fazer a pergunta certa é o ponto central na transformação, como nos ensina Estés. Encontrar o caminho para o nosso pertencimento começa com esta habilidade, quando separamos a bagunça em que estamos envolvidas da pergunta fundamental, aquela que cada mulher precisa descobrir para se tornar inteira. Lily acaba por chegar a esta encruzilhada e a lição aqui é a paciência para tomar grandes decisões, a sabedoria do momento certo, em que todas as cartas estão na mesa, os riscos e desejos irreais são desvelados. O passo seguinte é suportar o que vê e continuar, apesar das incertezas. Devido a este ângulo, a analogia que a escritora usa “continue a nadar, continue a nadar”, do filme Procurando Nemo, se torna condizente com o processo de crescimento que se descortina no romance.
A minha frase favorita do livro é essa: “Talvez o amor não seja algo que vem no formato de um ciclo completo. Ele apenas flutua, pra dentro e pra fora, assim como as pessoas entrando e saindo das nossas vidas.” Não esperar um felizes para sempre, e sim viver o que é possível para aquele momento de nossas vidas. A realidade pode não ser um conto de fadas, porém é nela que se encontra a verdade, mesmo que às vezes esteja amedrontada entre tantas camadas de ilusão e condicionamentos.
Um grande beijo,
Magda Medeiros