O passeador de livros- Carsten Henn

Este livro traz um protagonista que entrega livros nas residências de uma cidadezinha, com toda a dedicação e entendimento de quem os considera uma coisa muito séria, afinal para ele “alguns pensamentos contidos entre a capa e contracapa podem ser um veneno, embora seja muito mais frequente o papel conter a cura — às vezes, para certas coisas que nem imaginamos que precisam ser curadas.” Assim, o papel de Carl Kollhoff é fazer o livro certo chegar para a pessoa certa e para isso ele usa uma estratégia incomum. Ele escolhe nomes como Mister Darcy (de Orgulho e preconceito) ou Píppi Meialonga para caracterizar seus leitores e o que percebe como marcante e próprio de cada um.

A senhora Ursel Schäfer, uma personagem do enredo, possui uma definição muito inusitada do que caracteriza um bom livro, e, entre vários critérios como levá-la às lágrimas em pelo menos três trechos, melhor se fossem quatro, também o estranho pedido de não ter a capa na cor verde. Fiquei pensando nos motivos para definirmos uma obra como boa, e, para além da questão literária, o quanto isso tem a ver com o momento escolhido para a leitura. Você já teve aquele livro que ficou na estante um tempão e não conseguiu ler, e depois o devorou e ficou se perguntando como podia ter esperado tanto? Ou então, releu um livro para entender porque não fluiu quando tantos o adoram e, na segunda vez, descobriu novas nuances? Trago estas perguntas porque O passeador de livros me levou nas entrelinhas a voar na imaginação e na magia dos livros.

Outro personagem que encanta é o livreiro Gustav Gruber, que explica a sua paixão através das linguagens do amor “em algumas famílias, o amor se demonstra pela comida. Um pãozinho com uma camada generosa de manteiga, ou algumas fatias de frios a mais no recheio do sanduíche. Outras se abraçam com frequência, com o calor humano se opondo à frieza do mundo. Na minha, essa linguagem sempre foram os livros”. E, se o instante em que estamos influencia na avaliação da obra, será que a época do ano ou o que está acontecendo no nosso entorno também interfere? Este é o último livro de 2024, o Natal se aproxima e um livro que tenha magia e singeleza talvez seja o que necessitemos, ainda mais quando se vê o resultado de uma pesquisa como a Retratos da Leitura 2024, com uma redução no número de leitores de 100 milhões em 2019 para 93,4 milhões em 2024. Por isso, o meu trecho preferido é: “cada dia mais pessoas estão lendo menos. No entanto, existem pessoas dentro das páginas. É como se cada livro contivesse um coração que só começa a bater quando é lido, porque nosso coração o impulsiona.”

Então, sigamos como o Passeador, encontrando personagens dos livros em quem nos rodeia e também em nós mesmos: uma lente cheia de mistério e descobertas, à distância de uma virada de página.

Beijos,

Magda Medeiros

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