Um romance que traz alguns temas instigantes e nos coloca para pensar sobre várias questões. O tema da maternidade permeia o livro do início ao fim, com nuances às vezes carregadas, outras percebidas nas entrelinhas e escolhi abordar este viés: “Ela havia aprendido com o nascimento de Izzy que a vida podia estar seguindo seu caminhozinho seguro e então, sem qualquer aviso, descarrilhar de forma impressionante. Sempre que a Sra. Richardson olhava para Izzy, surgia aquele sentimento de que as coisas estavam fugindo do seu controle, feito um músculo que ela não sabia como relaxar”. Nesta parte a autora nos conta sobre os acontecimentos do nascimento de Izzy e os prognósticos ruins quanto à sua saúde, de como isso ficara gravado na mente da mãe. Isso acaba por levar a um olhar super vigilante para a menina, buscando evidências de problemas e não a deixando experimentar o que os outros três filhos mais velhos faziam com leveza. Isto me chamou a atenção não somente pelas reações automáticas na relação mãe e filha, mas também pelo o que Izzy representou para sua mãe: a perda de controle. E talvez fosse com isso que a sua mãe realmente se debatesse. Relembrei um livro que me impactou, A maternidade e o encontro com a própria sombra, da Laura Gutman, em que ela fala da fusão mãe e bebê, em que o bebê vive como se fosse dele tudo aquilo que a mãe sente e recorda, aquilo que a preocupa ou que rejeita. Laura considera que “a dificuldade aparece quando é necessário reconhecer, no corpo físico do bebê, o surgimento da alma da mãe, em toda a sua dimensão. É como ter o coração aberto, com suas misérias, alegrias, inseguranças, com todas as situações que precisam ser resolvidas, com o que lhes falta compreender. É uma carta de apresentação frágil: isto é o que sou no fundo de minha alma; sou este bebê que chora.”
Com Izzy, Elena Richardson teve a chance de investigar a verdade sobre si mesma e de enfrentar as escolhas feitas até aquele momento, de cavoucar em busca da pessoa que havia sido e da sua própria chama, escondida sob anos de julgamento de certo e errado. Poderia aproveitar ou se camuflar na raiva, “a raiva é o guarda-costas do medo”, este talvez o caminho mais rápido, porém o que também conduz a pequenos incêndios e à decisão de acabar com o que oprime.
O livro fala sobre maternidades, tanto de Elena e Mia em que elas se apresentam imperfeitas em ambos os estilos de cuidado materno, como na disputa entre a mãe adotiva Linda McCullough e a mãe biológica Bebe Chow, e muito mais do que acertos e erros, remete às dúvidas quanto à possibilidade de haver uma forma satisfatória de respondermos algumas perguntas. E por isso o trecho que mais gostei foi esse: “— Você sempre vai ficar triste por isso — falou Mia baixinho. —Mas não significa que fez a escolha errada. É só algo que vai ter que carregar com você”.
Ela própria era o pássaro tentando se libertar ou era a gaiola? Pode parecer fácil responder, mas nem tudo é o que parece, como esta obra veio nos lembrar.
Beijos,
Magda Medeiros