“Sabemos que o trauma compromete a área cerebral que transmite a sensação física, corpórea, de estar vivo. Essas mudanças explicam porque pessoas traumatizadas se tornam hipervigilantes em relação a ameaças, mesmo que isso venha a prejudicar a espontaneidade em sua rotina diária.” (O corpo guarda marcas, de Bessel Van Der Kolk)
A Bailarina de Auschwitz chegou em minhas mãos pouco tempo após eu ter lido a obra citada acima, com pesquisas e relatos que abordam as marcas do trauma como o estresse pós-traumático, e me vi relembrando o que havia refletido no livro anterior, o que se carrega após a vivência de episódios devastadores. A autora conta os horrores de ser uma prisioneira num campo de concentração e de como sobreviveu, foi encontrada em uma pilha de corpos dados como mortos. Ela se tornou psicóloga e este relato também aborda as ferramentas que utilizou com seus pacientes e com ela mesma para conseguir a cura.
Um trecho marcante para mim foi: “Não existe uma hierarquia de sofrimento. Não há nada que torne a minha dor maior ou menor que a sua, nenhum gráfico no qual possamos registrar a importância relativa de uma dor sobre a outra.” Quantas vezes engolimos as palavras porque não valorizamos o que nos vai por dentro, não escutamos o que está gritando em nós e pedindo atenção, talvez por achar que a nossa dor não é válida o suficiente?
E se uma frase pode iluminar, esta me leva a lugares difíceis de acessar: “Quando nos entristecemos, não é apenas pelo que aconteceu, mas também pelo que não aconteceu.” O nó no peito pelos sonhos que não se realizaram, pelos caminhos que se fecharam, a angústia que conduz em direção à nossa própria impotência. Não há como voltar atrás e mudar o que ocorreu, seja por fatores externos a nós ou por nossas decisões. Sobre isso, esta parte me impactou: “posso me castigar por ter feito a escolha errada ou posso aceitar que a escolha mais importante não foi a que fiz quando sentia fome e medo, quando tinha 16 anos e estava cercada por cães, armas e incertezas, mas a que faço agora. A escolha de me aceitar como eu sou: humana e imperfeita. Todos nós podemos fazer escolhas. Não posso mudar o passado, mas há uma vida que posso salvar: a minha.”
Como conclusão para esta resenha, deixo esta frase do Viktor Frankl, também ele um sobrevivente de campo de concentração nazista, cujo livro Em busca de sentido foi uma inspiração para a escritora: “Pode-se tirar tudo de um homem exceto uma coisa: a última das liberdades humanas — escolher a própria atitude em qualquer circunstância, escolher o próprio caminho.”
Beijos,
Magda Medeiros