“Esta é a história do champanhe francês, mas não teve início em meio ao esplendor de um castelo; suas origens foram bem mais modestas: as prateleiras de uma bem abastecida loja de vinhos. Foi um começo deselegante para a obsessão pela história de um dos melhores vinhos do mundo e de uma grande mulher”. Assim começa o prólogo, com a motivação da autora para enveredar por esta obra que traz detalhes sobre o surgimento do espumante e sua contextualização histórica, com detalhamento de guerras e comércio entre países, de como aconteceu a restrição do uso do termo champanhe somente para vinhos da região de Champagne na França. Tilar deixa claro desde o início a dificuldade para encontrar registros biográficos sobre Barbe-Nicole Clicquot Ponsardin e a sua escolha de abordagem deste desafio é o que me impressionou. “Queria descobrir não somente o que ela fez e quando viveu, mas como foi capaz de criar um futuro diferente para si mesma e de negociar as encruzilhadas de dor, desespero e oportunidades em sua família. Às vezes, foi preciso usar muita imaginação. Os fatos dessa história são verdadeiros, ou tão verdadeiros como a história os tornou. Isso não me importa. Mas aprendi que contar a vida de outra mulher é tanto uma questão de empatia quanto de conhecimento”. E em várias passagens com muitos talvez, a escritora nos leva com ela em seu exercício de imaginação, nos vemos sentados à sua escrivaninha ou torcendo para que suas ousadas decisões tenham sucesso, como o envio secreto de vinhos em época de bloqueio comercial.
“O dilema de todo historiador curioso é muito simples: sem empatia, resta o silêncio.” Esta frase é a minha preferida, porque traz consigo a pergunta: Se não há arquivos documentados com precisão, não é possível escrever uma obra biográfica? Nem todas as pessoas inspiradoras registram em diários seus pensamentos e motivações, então estão condenadas a serem esquecidas?
Há partes em que a autora explora temas como os copos de espumante ao longo do tempo, desde os cálices rasos e largos à preferência atual por altos e esguios, e onde ela diz, “mas, em geral, a preferência pelo tipo de copo e pelo tamanho das bolhas é mais uma questão de aparência do que de sabor”. Também cita Eileen Crane, vinicultora e presidente da Napa Domaine Carneros, e a dica do que ela considera o melhor método para definir o melhor copo para o champanhe, o de sua irmã, uma coleção de taças variadas, antigas e modernas, todas diferentes, onde cada convidado escolhe a de sua preferência. Eileen também nos traz o champanhe como uma bebida não somente para ricos e famosos, mas para aqueles que querem comemorar coisas simples, indo bem tanto com pizza quanto com banho de espuma. Cita o conhecedor de vinhos Hugh Johnson “qualquer copo bem grande é bom para champanhe”, o que me lembra as reflexões sobre o momento ideal para tomar um vinho especial em Sideways- entre umas e outras, um filme com cenas de viagens pela Califórnia, indico assistir.
O vinho é um convite à celebração, mais do que se preocupar com regras.
“Barbe-Nicole, com seu desdém pelas frivolidades e seu amor pelo champanhe, concordaria”.
Beijos,
Magda Medeiros